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Dinastia Joseon, Reino das Manhãs Calmas, século XV

O conjunto dos Contos da Tartaruga Dourada, escrito no século XV, é considerado o ponto fundador da prosa coreana. Conectadas por ideias sobre o amor romântico, a interação entre o mundo dos vivos e o dos mortos e comentários sobre política e religião, as histórias forneceram um modelo de romance que seria usado em séculos por vir.

O livro, recheado de referências aos clássicos chineses, combina a prosa às poesias e canções, a literatura fantástica à filosofia, a erudição à sensualidade. A qualidade lírica das frases e a descrição sensível dos eventos rendem ao conjunto a sofisticação de um romance. Outro ponto de interesse no estilo narrativo de Kim Si-seup é o sincretismo entre elementos xamânicos, budistas, taoístas e neoconfucionistas.

“Um jogo de varetas no Templo das Mil Fortunas” traz um protagonista que desafia o Buda pela promessa de um amor eterno. Em “Yi espreita por cima da mureta”, a união improvável de um casal é atravessada pela turbulência da guerra. “Embriaguez e deleite no Pavilhão do Azul Suspenso” mostra o encontro extranatural de um poeta com uma descendente da realeza. “Visita à Terra Flutuante das Chamas do Sul” tem como centro um embate de ideias filosóficas e religiosas entre um estudioso e um rei do mundo dos mortos. Já “O banquete esvanecido do palácio do Fundo das Águas” conclui e arremata a reunião revisitando temas das histórias anteriores e mostrando um personagem em caminho de iluminação.

As histórias se passam em diversos locais dos reinos coreanos e os protagonistas se veem imersos em experiências fantasmagóricas inexplicáveis a eles e alienantes para aqueles que os rodeiam. Em meio às aventuras sobrenaturais, o autor também oferece detalhes da sociedade da época e dos modos de vida considerados louváveis – que os personagens apresentados nunca conseguem atingir e com os quais se chocam na busca pelos seus desejos. O encontro entre o real e o irreal marca um descompasso entre as formas de realização pessoal e a estrutura política e simbólica vigente, conflito comum em épocas de ruptura, como a que os reinos coreanos viviam. Estes fios condutores podem permitir também que o livro seja lido como a história caleidoscópica de um só personagem, no caso, a do autor e de sua malfadada saga autobiográfica.

Kim Si-seup

KIM SI-SEUP (1435–1493) entrou para a história da Coreia como o “gênio desafortunado” do Reino de Joseon (1392-1897). Diz-se que ele aprendeu os caracteres chineses aos oito meses de idade, e compôs o primeiro poema aos três anos. Sua fama alcançou os ouvidos do Grande Rei Sejong (1397–1450), o inventor do alfabeto coreano, que presenteou o menino Kim, ainda com 5 anos, com uma peça de seda. Kim Si-seup continuou seus estudos confucionistas e budistas, com o intuito de ser um burocrata do reino, como cabia aos filhos em famílias nobres.

No entanto, em meio às crises da corte, incluindo um golpe de Estado, ele se tornou um peregrino – o sábio denominava-se “forasteiro” e dizia que se sentia como alguém a tentar encaixar uma estaca quadrada em um buraco redondo. Posteriormente, voltou à corte para ajudar na tradução do cânone do budismo mahayana para a escrita coreana. Em seguida, continuou sua peregrinação por dois anos, até construir uma cabana na Montanha da Tartaruga Dourada, onde viveu por sete anos e quando acredita-se que estas histórias foram escritas.

autor

Ele passou o resto da vida em conflito entre as demandas de que ele se tornasse um homem forte do reino e sua própria vontade de isolamento. Dezoito anos após sua morte iniciou-se, a mando do rei, a coleta de suas obras para publicação, ocorrida pela primeira vez em 1521 e mais várias vezes nos séculos seguintes.

Tradução, notas e textos complementares
por Yun Jung Im.

YUN JUNG IM nasceu na Coreia do Sul e imigrou para o Brasil aos 10 anos de idade. Possui mestrado em Literatura Coreana Moderna pela Universidade Yonsei (1990) e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1995), na área de Tradução Literária.

Já traduziu mais de uma dezena de obras do coreano para o português, entre romances, contos e poesias, e foi por duas vezes agraciada com o Prêmio de Tradução Literária do LTI Korea (Instituto de Tradução Literária da Coreia). Atualmente é professora do curso de Língua e Literatura Coreana na Universidade de São Paulo e coordenadora do Grupo de Estudos Coreanos (USP).

Leia em primeira mão um trecho de "Contos da Tartaruga Dourada" (Tradução do coreano e notas de Yun Jung Im):

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