TEMPO E ESPAÇO NA CULTURA JAPONESA

Foi ao longo de toda a sua vivência dentro e fora do Japão que o historiador de literatura e acadêmico Shuichi Kato observou as diferenças na produção cultural de seu país com relação à da Europa e América do Norte. Kato concluiu esta obra, algo como um epílogo a seu pensamento, pouco antes de falecer, em 2008.

O tempo, demonstra o autor, é elástico de acordo com as conveniências: é preciso que haja espaço e tempo para que as coisas fluam e aconteçam. Para que não haja estagnação. "Passei a ter um interesse cada vez mais forte a respeito de qual consciência de tempo caracterizaria a cultura japonesa e qual está viva, o tempo que avança rápido/lentamente, o tempo finito/infinito que se volta para uma direção em uma linha reta, o tempo cíclico e não cíclico", diz Kato. O presente do que denomina de "agora = aqui" é o que importa, mas ele pode se ampliar ou reduzir, assim como é feito com o espaço interior e exterior das casas japonesas, de acordo com as necessidades.

Em japonês, as palavras jikan ("tempo") e kūkan ("espaço") compartilham um mesmo ideograma (間), que por si só contém o significado de tempo-espaço quando pensado em termos de intervalo temporal ou espacial. 

Não se trata, contudo, apenas daquele que é preenchido, mas do espaço vazio, ou aparentemente vazio, por conter um significado e uma relevância. Além dessa questão da identidade tempo-espaço que subjaz no pensamento japonês e que se torna visível nas manifestações culturais por ele demonstradas, o autor mostra a forma de organização espacial cuja tônica recai sobre a assimetria nas artes e a horizontalidade na arquitetura. Está presente ainda em tradições tão distintas quanto a cerimônia do chá e a dança japonesa, na qual os profissionais nunca erguem os dois pés do chão ao mesmo tempo, como observa Kato. 

Para tanto, o estudioso fundamenta-se não só nas características da língua e nas expressões literárias e artísticas, mas também no modus vivendi que abrange os relacionamentos interpessoais japoneses.


                                                                                                   


SHUICHI KATO

Shuichi Kato nasceu em Tóquio, em 1919. Hematologista formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Tóquio, onde dedicou-se à pesquisa no início da carreira, Kato instalou-se na França em 1951 e retornou ao Japão em 1955, dedicando-se então exclusivamente à escrita. Nos anos 1960 lecionou no Canadá e na Alemanha, e fez numerosas viagens de estudos pelo mundo, o que o levaria a escrever: “Refletindo sobre o pensamento estrangeiro e o pensamento autóctone como dois vetores, tomei como resultado da composição vetorial a “japonização” do pensamento estrangeiro.” Manteve a partir dos anos 1970 a cátedra de História Intelectual do Japão na Universidade Sophia, em Tóquio. Entre suas principais obras constam Nihon Bungakushi Josetsu [Introdução à história da literatura japonesa], Watashini totteno 20 Seiki [O meu século XX], e principalmente uma notável história da literatura japonesa em 7 volumes. Kato faleceu em 2008. 



Livro
Tradutor Neide Nagae e Fernando Chamas
Formato 14x21
Páginas 288
ISBN 978-85-744-202-6

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