A LENDA DO SANTO BEBERRÃO

Num período de poucos dias, a vida de um andarilho parece ser tomada, de súbito, por uma série de eventos inexplicáveis. Tudo começa quando um sujeito endinheirado tromba com o nosso peculiar anti-herói: sem motivos claros, o bem-nascido oferece ao pobre homem uma vultosa soma em dinheiro. Apesar de viver na miséria, Andreas, o andarilho, nutre valores inquebrantáveis de idoneidade e retidão, e só aceita o dinheiro com a condição de devolvê-lo, algum dia, a uma determinada santa. 

Mas aquela dinheirama súbita que lhe cai às mãos é rapidamente gasta em desbundes etílicos, e Andreas, a partir do contato com outros inusitados personagens que cruzam seu caminho, parece fadado a uma espiral alucinante de sempre protelar o acerto de sua “dívida”. Vivendo às margens do rio Sena, que, naquele entre guerras, se mostravam uma verdadeira Babel de imigrantes desorientados e andantes sem destino, Andreas não deixa de ser um alter ego de Roth, que preferia peregrinar a manter um lar definitivo, e que teria a bebida como acompanhante até o fim de seus dias. Essa brilhante narrativa de Roth, apesar das doses naturais de humor e ironia, não deixa de ser pungente. 

O tom fabular empregado pelo autor contribui para evocar alguns dos sentimentos mais básicos (e perdidos) da condição humana, notadamente a bondade, a inocência, a solidariedade. Redigida às vésperas de sua morte, em 1939, A lenda do santo beberrão é uma pequena obra-prima que Roth chamara de “meu testamento”.


LEIA UM TRECHO

                                                                                                    


JOSEPH ROTH

Nascido em 1894 em Brody, nos confins do Império Austro-Húngaro e atual Ucrânia, Joseph Roth é de origem judaica. Foi testemunha ocular das transformações sociais que agitaram a Europa Central, no período do entre guerras. Jornalista bem-sucedido desde que se instalou em Berlim em 1920, tinha personalidade nômade, a ponto de quase nunca ter tido um lar de fato (dizia-se que seus bens eram “três malas”). Na literatura, caracterizou-se pela prosa concisa e foi rotulado, também, de poeta do cotidiano, tendo tido muitas obras de ressonante repercussão, Casos de Jó (1930) e A Marcha de Radetzky (1932). Morre pouco após desabar no Café de Tournon, em Paris, em 1939. 



Livro
Tradutor Mário Frungillo
Formato 21x14x1cm
Páginas 80
ISBN 978-85-7448-228-6

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