A GUERRA


O que significa a guerra na história da humanidade? De onde ela vem, por que desde os tempos mais antigos o homem recorre à força para resolver suas divergências? Luigi Bonanate, professor de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Turim e da Escola Superior de Economia e Relações Internacionais de Milão, reconstrói a guerra em todas as suas dimensões: histórica, antropológica, estratégica, filosófica.

Como lidar com algo tão desagradável, tão perverso quanto a guerra, este “evento de mais alta concentração de valor que podemos imaginar”, segundo o autor Luigi Bonanate? Dedicar um livro a este fenômeno cabalmente violento, intrinsecamente anti-humanitário, que congrega ao mesmo tempo o que o homem tem de mais nefasto e mais ufanista, mas podendo aliar também valores como a coragem, o sacrifício e a nobreza, não deixa de ser uma tarefa editorial delicada. De Platão, para quem ela era uma inutilidade, a La Bruyère, para quem era inevitável, definitivamente o consenso não existiu: para de Maistre, era “divina”, para Hegel, “uma necessidade histórica”, para Nietzsche, era “bela”, para Voltaire, “uma manifestação de estupidez”.

Além de filosofarmos se a guerra é inerente ou não à natureza humana, urge discutir seu perigoso endeusamento, que acaba por banalizá-la. Devemos nos confrontar com declarações como a de tal ministro norte-americano, que recentemente disse com a mais banal frieza que as tais bombas de sete toneladas jogadas sobre o Afeganistão eram feitas para matar o maior número possível de homens. Não disse nem “de soldados”, e sim “de homens”.

É preciso portanto reconhecer: a guerra como valor negativo não é nenhuma unanimidade. Há momentos onde os valores balançam, sentimentos de um humanitarismo sagrado parecem se tornar minoritários. Acaba parecendo inócuo dizer que a diplomacia não teve sua chance, ou não se quis que ela tivesse (Iraque, Líbia, Sudão, Afeganistão, definitivamente o inimigo se parece. Se ele não colabora, ajuda-se para que ele aja conforme convém). Ontem o imperialismo predador ou o comunismo expansionista, hoje o islamismo militante – a noção de inimigo sempre leva um empurrãozinho da semântica. Impõe-se definir com urgência a palavra “terrorismo” – aí estará o embate dos próximos anos. É fácil e tentador para alguns alcunhar de “terrorismo” toda e qualquer dissidência – para retomar um termo de lutas passadas. Em torno de questões semânticas e do controle da informação portanto girarão os conflitos futuros. Isso é o que o momento político (que voltou a se militarizar) de hoje permite supor. Mas será mesmo assim? Falou-se de uma era de paz após o fim da guerra fria – mas esta era de paz assistiu a massacres inconcebíveis na África, à devastação dantesca em plena Nova Iorque, a ações anteriormente inimagináveis no Golfo Pérsico, na Iugoslávia (em plena Europa), no recém-redescoberto Afeganistão. Guerras quentes enfim, com perdas de vidas humanas em números jamais vistos durante a guerra fria. 

A nova guerra (a do anti-terrorismo, que fez caducarem tantas noções arraigadas) seria então filha da globalização – ou seria ela um cavalo de Tróia para uma globalização forçada, unilateral, belicosa?

 

                                                                                                   


LUIGI BONANATE

Luigi Bonanate nasceu em Saluzzo (Piemonte, Itália) em 1943. Formou-se em Ciências Políticas com Norberto Bobbio na Universidade de Turim em 1968. Leciona Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Turim, de onde foi vice-reitor e atualmente preside o curso de Ciências Internacionais e Diplomáticas. Leciona também na Escola de Aplicação de Turim e na Escola Superior de Economia e Relações Internacionais de Milão. Fundou e dirige a revista Teoria politica. Entre suas obras podem ser destacadas La politica della dissuasione (1971), Teoria politica e relazioni internazionali (1976), Diritto Naturale e relazioni tra gli stati (org., 1976), Dimensione del terrorismo politico (org.), Né guerra né pace (1987), Etica e politica internazionali (1992), I doveri degli stati (1994), Le relazioni internazionali. Cinquesecolidistoria: 1521-1989, com F. Armao e F. Tuccari (1997), Transizioni Democratique 1989-1999 (2000) e Democraziatralenazione (2001).




Livro
Tradutor Maria Tereza Buonafina e Afonso Teixeira Filho
Formato 21x14x1cm
Páginas 176
ISBN 978-85-7448-046-6

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