O SUFRÁGIO UNIVERSAL E A INVENÇÃO DA DEMOCRACIA 


O voto direto e universal, que celebra a igualdade política dos homens, foi concebido pela primeira vez na França em 1848. Considerado hoje um símbolo da democracia, é surpreendente constatar a indiferença que cercou seu aniversário de 150 anos e a frágil atenção que se dá às formas de apropriação de suas práticas e às condições que as tornaram (e tornam) possíveis. Esquece-se de que, antes de se tornar emblema da democracia, o sufrágio foi objeto de todo um trabalho social e político para lhe dar forma, simbólica e material, bem como condições de ação.

Com o objetivo de analisar as informações perdidas e banalizadas da história do sufrágio, esta coletânea de ensaios discute a natureza do recurso ao voto e apresenta pesquisas sobre o processo de produção das normas e instrumentos eleitorais e do seu ajustamento às práticas sociais de alguns países como, por exemplo, a Grã-Bretanha, onde o sufrágio serviu à promoção de uma nova aristocracia. Enquanto na Itália as regras eleitorais foram burladas desde cedo em benefício de outros interesses, nos Estados Unidos a população iniciou uma longa batalha em torno do voto aberto ou secreto. Já no Brasil, não há como não atentarmos para a questão do voto regionalizado, praticado como adesão a segmentos da sociedade e não como uma escolha individual.

Com ensaio introdutório de Pierre Bourdieu sobre o voto como vontade coletiva, os artigos aqui reunidos trazem uma reflexão sobre a formação de três protagonistas das eleições: os eleitores, os candidatos e os comentaristas, e abordam também a questão de como foi pensada a não-inclusão das mulheres no processo de votação. 

Ao final da obra, dois artigos oriundos de pesquisas realizadas em municípios brasileiros mostram que, 150 anos depois da declaração do sufrágio universal, um século depois da adoção do sistema republicano, continuamos a alinhar os princípios democráticos no rol das utopias.

Para aqueles que procuram ir além do que nos foi imposto com a força da evidência, e se interessam por um mergulho na complexidade que envolve uma eleição, a presente edição traz subsídios à discussão pública sobre acontecimentos recentes ligados a fraudes e crimes eleitorais no País, que motivaram CPIs no Congresso Nacional, bem como embasa a abordagem de casos análogos que costumam cobrir as páginas da imprensa européia, americana e asiática.


OS AUTORES

Alain Garrigou  |  Ana Francia Minetti  |  Anne Verjus  |  Beatriz M. A de Heredia |  Bernard Voutat Christophe Jaffrelot  |  Francisco Belisário Soares de Souza  |  João B. Serra  | José de Alencar  John Crowley  |  Letícia Bicalho Canêdo  |  Michel Offerlé  |  Moacir Palmeira  |  Patrick Champagne Pierre Bourdieu  |  Raffaele Romanelli

 

     

                                                                                                   


ORGANIZADORA

Organização e apresentação de Letícia Bicalho Canêdo