ILUSÕES PERDIDAS

Balzac dizia que Ilusões perdidas era “a obra capital dentro da obra”. Esse volume fundamental da Comédia humana começou a ser escrito por volta de 1833 e foi publicado em partes: a primeira saiu em 1836; a segunda, em 1839; e a última, juntando as duas anteriores, em 1843. Estava formado assim um dos maiores clássicos da literatura mundial, romance que integra a vida na província com a vida na cidade, retratando, de forma ampla, a sociedade francesa do final do século XVIII. 

A Editora Estação Liberdade apresenta ao leitor brasileiro uma nova tradução da obra, de Leila de Aguiar Costa, baseada nas edições da Garnier, da Pléiade e da coleção Folio Classique, da Gallimard, que trazem textos estabelecidos a partir dos originais do escritor e de suas primeiras edições. O livro oferece também um importante aparato crítico e estético: apresentação à edição brasileira; 260 notas elucidativas sobre situações e personagens históricos; três prefácios, inéditos no Brasil, que Balzac redigiu para cada uma das partes; ilustrações que constavam da primeira edição de Ilusões perdidas, publicada em 1843 pelos editores Hetzel, Paulin, Dubochet, Sanches e Furne (chamada, pelos especialistas, edição de “Furne”); e uma cronologia da vida e da obra de Balzac. 

Com a ironia que caracteriza seu estilo, Balzac cria um personagem provinciano e ambicioso com veleidades literárias. Lucien de Rubempré é o fio condutor da narrativa que engloba não apenas os costumes da província ou da capital, mas principalmente a produção cultural do período — campo fértil para o sarcasmo do autor. Os retratos que vai traçando com riqueza de detalhes, lançando mão do naturalismo, sem medo de perder o ritmo — sempre envolvente — de sua ação, deslumbram o leitor de qualquer época da história. Não deixa de ser interessante observar hoje, passados quase dois séculos de sua criação, como Ilusões perdidas mantém seu frescor e até mesmo sua atualidade. 

Em toda a primeira parte, batizada de “Dois poetas”, Balzac descreve a vida na pacata Angoulême, colocando sua lente de aumento na vida de um sonhador Lucien que almeja fazer sucesso em Paris como poeta; de seu melhor amigo, David Séchard, que passa a tocar a ultrapassada tipografia de seu pai (um velho avarento, que não dá ponto sem nó); de Ève, irmã de Lucien, por quem David se apaixona; e o núcleo aristocrático comandado pela senhora de Bargeton, que será amante de Lucien e, como ele, sonha com os esplendores da capital. Na segunda parte, “Um grande homem de província em Paris”, ele pinta (para usar uma expressão do próprio autor) os costumes íntimos da vida parisiense, com a chegada da senhora de Bargeton e Lucien. Nesse capítulo, o maior do livro, o escritor flagra com ironia a vida cultural da grande cidade, principalmente o meio corrompido do jornalismo e do espetáculo teatral. Na última parte, “Os sofrimentos do inventor”, Balzac volta-se ao cotidiano de Angoulême, retratando as dificuldades de David Séchard com sua gráfica e o retorno de Lucien, após a experiência vivida na metrópole. Com Ilusões perdidas, a Editora Estação Liberdade dá continuidade ao seu projeto de publicação da obra de Balzac, iniciado com A mulher de trinta anos e O pai Goriot, e apresenta o novo projeto editorial para a sua coleção de clássicos da literatura.


LEIA UM TRECHO

                                                                                                


HONORÉ DE BALZAC

Honoré de Balzac nasceu na província, em Tours, em 20 de maio de 1799. Aos quinze anos, muda-se para Paris com os pais e os três irmãos. Forma-se bacharel em direito em 1819, mas acalenta o sonho de ser escritor e a esse projeto se dedica. A partir de 1822 seus primeiros romances são publicados sob diversos pseudônimos; escreve também para pequenos jornais — atividade que exercerá até 1833 — e tenta uma carreira como editor, mas logo sua empresa vai à falência, iniciando as dívidas que marcarão sua vida. Em 1829 publica, usando pela primeira vez seu próprio nome, Le dernier Chouan ou la Bretagne em 1800, que, sob o título definitivo de Les Chouans [Os Chouans], será o primeiro romance da Comédia humana. Nesse mesmo ano, redige, entre outros, A Paz Conjugal, mais antiga das Cenas da Vida Privada, e trabalha no manuscrito que se tornará A mulher de Trinta Anos. Em 1835 lança O pai Goriot. Em 1842 é publicado o primeiro volume da Comédia humana. Em 1849, muda-se para a Ucrânia. No ano seguinte, casa-se com Evelyne Hanska, viúva do conde Hanski, sua amante desde meados da década de 30; e, de volta a Paris, morre nesse mesmo ano, no dia 18 de agosto.