
Título: OS MOEDEIROS FALSOS
Autor: ANDRÉ GIDE
Tradução: MÁRIO
LARANJEIRA
Formato: 14 x 21 cm /
424 páginas
ISBN: 978-85-7448-160-9
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Tarefa
difícil dar conta da magnitude de Os
moedeiros falsos. Romance sobre a construção do romance, é ao
mesmo tempo romance de formação, flerta com o estilo folhetinesco, com o
romance policial, o romance de ideias... Diz o personagem Édouard a certa
altura: "[...] as ideias, confesso, interessam-me mais do que os homens;
interessam-me acima de tudo. Elas vivem; combatem; agonizam como os homens.
Naturalmente pode-se dizer que só as conhecemos pelos homens, assim como só
temos conhecimento do vento pelos caniços que ele inclina; mas mesmo assim o
vento importa mais que os caniços."
Bernard, Olivier e Édouard são os rapazes que formam a tríade central de
personagens. Bernard, o filho que deixa o lar em busca de identidade, um
bastardo na pele do filho pródigo; Olivier, seu grande amigo, intelectual
como ele, mas sempre no limiar entre a vaidade e a insegurança. Tio de
Olivier, algo mais velho que os dois, Édouard fecha o núcleo que norteará o
leitor em meio ao sistema caleidoscópico e polifônico de Os moedeiros falsos. Em
especial este último: é por meio do diário de Édouard (escritor, ele planeja
escrever um romance chamado Os
moedeiros falsos) que o leitor é tragado pela estrutura abismal
-- mise en abyme, segundo Gide -- da obra dentro da obra, onde os limites
entre o ficcional e o real se atenuam e vêm à tona a metalinguagem e a
reflexão sobre as possibilidades e os limites de um romance.
Anterior ao esquema de falsificação armado por Victor Strouvilhou, quiçá
esteja outro tipo de "moeda falsa". Se nos Porões do Vaticano o
elemento diabólico encontra seu totem na figura de Lafcadio, aqui ele se
dissemina. Há como que uma brisa funesta a perpassar todo o enredo, o qual,
no entanto, encontra seu equilíbrio na juventude e na pureza de alguns de
seus cativantes personagens: um erotismo sutil, combinado com a causalidade e
a inconsequência. "Quando eu era mais jovem, tomava resoluções que imaginava
nada virtuosas. Preocupava-me menos em ser quem era do que em me tornar quem
pretendia ser. Agora, pouco me falta para ver na irresolução o segredo para
não envelhecer."
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