No Japão, o período do pós-guerra trouxe definitivamente à tona toda sorte de questões que mantiveram caráter de tabu durante tanto tempo, numa tradição secular de silêncio e discrição. Isso faz com que o enredo de O fuzil de caça, cujos personagens estão enleados em um caso de amor extraconjugal, não constitua por si só uma novidade ou um fator de estranhamento. É também na forma, e não apenas em sua temática, que a obra se consolida como fundamental no panorama da literatura japonesa contemporânea. 

Lançando mão da tradição do romance epistolar, convida o leitor à posição de voyeur de uma comunicação unilateral e inusitada entre um caçador, Josuke Misugi, e um escritor. Três cartas, endereçadas a um mesmo homem por três mulheres diferentes, imprimem uma textura trágica à trama. 

O jogo de narradores; as cartas como único veículo para a torrente de alta tensão emocional que se revela ao leitor; o exercício constante da concisão e o lirismo que transpira de uma prosa que se mantém sempre vizinha do território poético: a estética e o conteúdo se entrelaçam, e o entrecho se apresenta belo como uma trilha na neve. Ao mesmo tempo, o equilíbrio entre o que é dito e o que é velado mantém o mundo da solidão presente em cada linha e constante em todos os personagens. Permeiam estas páginas o isolamento e a carência de franqueza nas relações humanas, que as cartas reveladas por Misugi tentam romper e atravessar.







SOBRE O AUTOR 






Yasushi Inoue nasceu em 1907 em Asahikawa, no norte da ilha de Hokkaido, Japão. Foi poeta, contista, novelista e ensaísta. Depois de malograda sua tentativa de cursar medicina, ingressa na Universidade Imperial de Kyoto, formando-se em estética e filosofia. Antes de estrear na carreira literária, escreve poemas e treina judô obsessivamente. Era ainda uma promessa da fecunda literatura japonesa pós-Segunda Guerra Mundial quando publica seu primeiro romance aos 42 anos, O fuzil de caça (1949), lançada pela Editora Estação Liberdade em 2010. Recebe, em 1950, o prestigioso Prêmio Akutagawa de literatura, pela obra Togyu. Entre livros de contos e romances, publicou ainda Futo (1963), Waga haha no ki (1975) e Hongakubo ibun (1981). Faleceu em 1991, em Tóquio.



Livro
Tradutor Jefferson José Teixeira
Formato 14 x 21 cm
Páginas 108
ISBN 978-85-7448-178-4

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