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A gata, um homem e duas mulheres, seguido de O cortador de juncos Autor: Jun’ichiro Tanizaki Tradução: Andrei Cunha, Clicie Araujo, Lidia
Ivasa, Maria Luisa Vanik Pinto e Tomoko Gaudioso Dimensões do produto: 14x21cm Número de páginas: 192 ISBN: 978-85-7448-276-7
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Relações
de dominação e submissão sempre alimentaram a literatura de Jun’ichiro
Tanizaki. Se no clássico Diário de um
velho louco ele se debruçou sobre a forma como um homem senil é
facilmente manipulado pela jovem nora de belas curvas, por quem nutre uma
irreprimível obsessão sexual, neste A
gata, um homem e duas mulheres o escriba japonês eleva à quinta potência
o nível de complexidade nos relacionamentos afetivos entre seus personagens. Narrativa
breve publicada originalmente em 1936, a novela põe a gata Lily no centro da
trama protagonizada pelo casal Shozo e a esposa Fukuko, e ainda pela
ex-mulher do primeiro, Shinako. Shozo adora mimar a gata de todas as formas
possíveis, o que deixa Fukuko enciumada — fato que já havia se dado também
com a ex-esposa. Ciente da possibilidade de que isso volte a se repetir no
novo relacionamento do ex-marido, Shinako planta a discórdia ao sugerir à
rival Fukuko que se livre da bichana. É a gata Lily, portanto, que, à
primeira vista, se insinua como ponto de desequilíbrio na normalidade dos
personagens; no entanto, Tanizaki parece recorrer à gata como metáfora para a
falência dos relacionamentos humanos. A
intimidade que Shozo dispensa à Lily, como lhe dar de comer diretamente na
boca, está longe de se repetir com a mulher. A própria troca de Shinako por
Fukuko guarda uma série de interesses que evidenciam Shozo como uma figura
patética e manipulável. A
segunda novela que compõe a presente edição, O cortador de juncos — publicada originalmente em 1932 —, propõe
uma espécie de homenagem ao teatro nô ao estruturar uma “história dentro da
história”. Caminhando pelas cercanias do rio Yodo, em Okamoto, um homem topa
por acaso com um desconhecido, com quem conversa sobre amenidades e
reminiscências. O primeiro conta ao interlocutor a história de seu pai, um
homem que, na juventude, viu-se dividido entre duas irmãs, Oyu e Oshizu. Apaixonado
pela primeira, uma jovem viúva de Kobe que vive tal qual uma dama da corte
imperial, ele teve de se resignar a um matrimônio de fachada com a segunda, a
caçula — esta consciente do amor platônico dele por sua irmã mais velha. Em
O cortador de juncos, alusões diretas e indiretas a Genji monogatari [O
romance do Genji], que costuma ser apontado como o primeiro romance do mundo
(escrito no século XI por Murasaki Shikibu), representam o esforço de
Tanizaki em espelhar a estética da era de ouro da literatura clássica
nipônica. Daí a opção por trechos longos, com pouca pontuação, como forma de
reproduzir aquele peculiar estilo narrativo. Tais elementos, no entanto, não
atenuam o virtuosismo da trama em si, que impacta o leitor ao combinar esse
pano de fundo histórico com uma surpreendente e complexa história de amor...
ou seria “de amores”? Ambas
as novelas, A gata, um homem e duas
mulheres e O cortador de juncos,
sintetizam com precisão algumas das temáticas que alçaram Jun’ichiro Tanizaki
ao rol dos grandes da cena literária japonesa: em comum, personagens
submissos, relações amorosas triangulares e casamentos de conveniência.
Jun’ichiro Tanizaki nasceu em 1886 em
Tóquio, onde estudou literatura na Universidade Imperial até ser expulso por
inadimplência. Começou a escrever cedo, de início sofreu influências de
Baudelaire e Poe, entre outros, e participou da escola Tanbiha, que
valorizava a “arte e beleza acima de tudo”, indo contra o objetivismo da
época. |