PEQUENO MANUAL DE INESTÉTICA


Didatismo, romantismo e classicismo são os esquemas possíveis do entrelaçamento entre arte e filosofia, sendo o terceiro termo a educação dos sujeitos.

Ora, o que a meu ver caracteriza o século recém-terminado é que, embora tenha experimentado a saturação desses três esquemas, não introduziu um novo. O que tende a produzir hoje uma espécie de desenlaçamento dos termos, um des-relacionamento desesperado entre arte e filosofia, e a queda pura e simples daquilo que circulava entre elas: o tema educativo.

Daí decorre a tese em torno da qual esta pequena obra não passa de uma série de variações: à vista de tal situação de saturação e fechamento, deve-se tentar propor um novo esquema, um quarto modo de entrelaçamento entre filosofia e arte.


ORELHA (por Nicolau Sevcenko)

Num célebre juízo categórico, formulado em A República, Platão firmou um estatuto que definiria o destino da cultura ocidental. “A cidade, cujo princípio acabamos de estabelecer, é a melhor, sobretudo em virtude das medidas tomadas contra a poesia.” Essa disposição antipoética singulariza a obra do grande pensador grego e toda a imensa herança que dele recebemos, justamente porque ela destoava do consenso dentre seus concidadãos. A convicção vigente exaltava o impulso lírico, conforme preconizava o poeta Simônides, ressaltando que “para um homem, a parte crucial da educação é ser competente em matéria de poesia.”

Neste livro lúcido e preciso, o filósofo Alain Badiou entrecruza as duas vertentes do seu talento para retomar e confrontar essa questão seminal. Sua proposta ao mesmo tempo ousada e original, de uma “inestética” atua em duas dimensões críticas. De um lado denuncia o aporte filosófico que paralisa a arte na rigidez estéril dos conceitos, de outro resgata ao impulso lírico a vertigem do contingente, do imponderável e da fluidez. Inspirado na poética de Fernando Pessoa, mas também em Beckett, ele busca alternativas entre Platão e o anti-Platão, na senda de “uma verdadeira filosofia do múltiplo, do vazio, do infinito”, capaz de fazer “justiça a esse mundo que os deuses abandonaram para sempre”.

       

                                                                                                   


ALAIN BADIOU

Alain Badiou, filósofo, dramaturgo e romancista, leciona filosofia na Universidade de Paris-VII Vincennes e no Collège International de Philosophie. Publicou, entre outros, os ensaios Le nombre et les nombres (Seuil, 1990), Conditions (Seuil, 1992), Abrégé de métapolitique (Seuil, 1998), o romance Calme Bloc ici-bas (P.O.L, 1997) e a comédia Les Citrouilles (Actes Sud, 1996).

No Brasil, foram editados Manifesto pela filosofia (Aoutra, 1991), Para uma nova teoria do sujeito (Relume-Dumará, 1994), Ética: um ensaio sobre a consciência do mal (Relume-Dumará, 1995), O ser e o evento (Jorge Zahar, 1996) e Deleuze: o clamor do ser (Jorge Zahar, 1997).

 



Livro
Tradutor Marina Appenzeller
Formato 21x14
Páginas 192
ISBN 978-85-7448-069-5

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