A história do gueto de Varsóvia começa em 12 de outubro de 1940, Yom Kipur daquele ano, quando as autoridades nazistas ordenaram a transferência de todos os judeus da cidade polonesa para um perímetro fechado.

A opressão terminaria exatamente 948 dias depois, com o extermínio dos últimos resistentes e a dinamitação da Grande Sinagoga, localizada na rua Tłomackie. É o fim da maior comunidade judaica da Europa, a única que ofereceu resistência armada à crueldade. A descrição dessa resistência com meios extremamente parcos e na verdade desesperada é um marco da perseverança humana e símbolo do enfrentamento possível e necessário a estruturas opressoras, ontem, hoje e sempre.

Bruno Halioua apresenta também com pormenores os momentos anteriores à instituição do gueto, com a escalada da violência e da barbárie, que culminariam na erradicação. 

Com base nos numerosos testemunhos escritos durante e após o período em questão, Halioua narra a vida cotidiana de mais de 380 mil pessoas (isto é, cerca de 30% da população de Varsóvia à época): a multiplicação das medidas antijudaicas, os estratagemas para comer, trabalhar, rezar apesar do inferno, a coragem necessária para resistir à máquina de morte criada pelo Terceiro Reich.

Para o regime nazifascista no poder, o gueto de Varsóvia, com todo seu simbolismo, representa por si só um recuo inadmissível que será combatido a ferro e a fogo.

Narrado com verbos conjugados no presente, como que para de propósito não relegar o evento histórico ao passado, Os 948 dias do gueto de Varsóvia, sintético, preciso e edificante, é um livro indispensável a todos aqueles que desejam compreender melhor esse trágico episódio do século XX.

O gueto de Varsóvia e seu levante, como diz o autor, “vai muito além da comunidade judaica. [...] Constitui, depois da guerra, um momento-chave da história da Europa no século XX, como Marek Edelman ressaltou de forma notável: ‘A Shoá é a derrota da civilização. E, infelizmente, essa derrota não cessou em 1945. Temos de nos lembrar disso’.”




SOBRE O AUTOR 



Bruno Halioua é dermatologista e professor de história da medicina na Universidade Sorbonne em Paris. Ex-diretor da clínica da Faculdade de Medicina de Paris, possui um DEA (Diploma de Estudos Aprofundados, título de pós-graduação francês) em história contemporânea e é membro da Sociedade Francesa de História da Medicina. É também autor de La Médecine au temps des Hébreux; Sience et conscience; Blouses blanches, étoiles jaunes e La Médecine au temps des pharaons.