ADEUS, MEU LIVRO!



Kogito Choko, alter ego do próprio Kenzaburo Oe e protagonista de A substituição ou As regras do Tagame, está de volta. Agora mais velho e convalescente depois de ter sido ferido, recebe no hospital a visita de Shigeru Tsubaki, um amigo de infância com quem vai morar, após a alta, numa propriedade de veraneio próxima a Tóquio.

A partir do reencontro e de muito diálogo entre os dois personagens, Oe, que é mestre na arte de permear a literatura com experiências de sua vida pessoal, oferece aos leitores uma vasta gama de assuntos que, sendo caros ao autor, tal como são postos, são também de interesse da humanidade. Fala-se de literatura, arquitetura, cinema, música; fala-se de política, guerras; suicídio, envelhecimento; fala-se das relações familiares, do Japão e do mundo.

A dinâmica de duplos não se limita a Kogito e Shigeru. Há espelhamento nas relações de outros personagens. Espelhamento também entre vivos e mortos. Ocidente e Oriente. E, no fundo, talvez o mais significativo: entre externo e interno. Kogito, adepto de longa data do pacifismo, encontra-se num dilema: participar ou não de um ato violento para garantir dos danos o menor, ao invés de tentar evitá-lo de todo. A decisão terá que ser tomada ou por sua parte exterior, social e pacifista, através da qual ele é reconhecido, ou pela interior e recôndita, que guarda segredos dos mais inesperados.

O título Adeus, meu livro! é tomado do parágrafo que encerra O dom, de Vladimir Nabokov. Do mesmo modo, T. S. Eliot está presente, citado e debatido. Também é trazido à baila Yukio Mishima, contemporâneo a Oe mas que se suicidou aos 45 anos em ato apoteótico. Kenzaburo Oe perscruta algumas de suas ideias políticas que visavam romper com a ordem e instigar os militares, vejam só, a um golpe de Estado…


Leia um trecho


ENTREVISTA COM KENZABURO OE

Adeus, meu livro!, de Kenzaburo Oe, foi publicado originalmente em 2005 e chega agora no Brasil pela editora Estação Liberdade com tradução de Jefferson José Teixeira. Naquela ocasião, o autor concedeu entrevista ao jornal Le Monde. Ele falou sobre o processo de criação da obra, explicou por que voltava a escrever e discutiu o lugar do Japão no mundo. A entrevista foi republicada pelo jornal Folha de S.Paulo com tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

Leia a entrevista, em português, na Folha de S.Paulo
Leia também no Le Monde



OUTRAS INFORMAÇÕES




          


KENZABURO OE 

Kenzaburo Oe nasceu em 1935, em Ose, vilarejo das florestas de Shikoku, a menor das quatro principais ilhas do Japão. Oe tinha seis anos quando estourou a Segunda Guerra Mundial, durante a qual seu pai morreria. Uma de suas avós era contadora de histórias e carregava assim os mitos e as tradições do clã Oe, impactando o jovem Kenzaburo. 

Aos dezoito anos, pegou pela primeira vez o trem até a capital do país e, um ano depois, estudava literatura francesa na Universidade de Tóquio. Através da influência do realismo grotesco de Rabelais, passou a reinterpretar a história de seu povoado e a sua própria.

Começou a escrever em 1957. Compôs um poderoso ensaio sobre o bombardeio atômico de Hiroshima e o terrível legado da catástrofe, além de uma extensa lista de ficção que se utiliza bastante do Japão pós-guerra para retratar uma geração marcada por tanta tragédia. A vida e a carreira literária de Oe entraram em crise com o nascimento de seu primeiro filho, Hikari, portador de uma deformidade craniana que lhe resultou em comprometimento cognitivo. Apesar disso e mesmo por causa disso, Oe adquiriu novo fôlego e nova perspectiva sobre a vida e a escrita, em que Hikari tomaria uma posição central.

No Brasil, já foram publicadas as obras Uma questão pessoal (2003), Jovens de um tempo novo, despertai (2006), 14 contos de Kenzaburo Oe (2011) e Morte na água (2021), A substituição ou As regras do Tagame (2022) e, recém-lançado pela Estação Liberdade, Adeus, meu livro! (2023).

Recebeu os mais importantes prêmios literários do Japão, incluindo o Akutagawa, o Tanizaki e o Yomiuri; em 1994 foi premiado com o Nobel de Literatura.

Kenzaburo Oe faleceu aos 88 anos no dia 3 de março de 2023.