A PONTE FLUTUANTE DOS SONHOS | RETRATO DE SHUNKIN



A PONTE FLUTUANTE DOS SONHOS, publicado em 1959, tem seu título emprestado de um capítulo de Genji Monogatari, escrito no século XI pela cortesã Murasaki Shikibu e considerado o primeiro romance japonês. Tanizaki, que conhecia muito bem os textos clássicos (alguns dos quais traduziu para o japonês moderno) revisita na narrativa alguns temas de Genji Monogatari, como a relação ambígua de um jovem com a esposa do pai e a simbologia clássica dos elementos da natureza, inspirada pela tradição budista. O narrador Tadasu compartilha com o leitor a história de sua infância e de suas duas mães, que se misturam em sua memória. A confusão psicológica e a vergonha do narrador se contrapõem à limpidez do estilo de Tanizaki. O autor explora as nuances daquilo que não é dito e nos joga no centro do peculiar arranjo familiar estabelecido pelo pai de Tadasu, que tenta recriar, na segunda esposa, a mãe que o filho perdeu.

A segunda obra, RETRATO DE SHUNKIN, de 1933, apresenta uma das mais marcantes personagens de Tanizaki: Shunkin, prodígio musical, cega, cujo talento e beleza despertam todos os tipos de paixões. A relação entre Shunkin e Sasuke, seu ajudante e amante, é a matéria da história. A convivência de mestra e discípulo, seu desenvolvimento artístico, o temperamento cruel de Shunkin, a fervorosa servidão voluntária de Sasuke, as tragédias que marcam suas vidas, tudo é apresentado deixando entrever uma “história secreta”, desconhecida até do próprio narrador. A narrativa gerou entusiasmo da crítica e de autores como Yasunari Kawabata, que a chamou de “obra-prima”.

A forma como Tanizaki trata a memória, a paixão e a devoção é o que conecta os dois clássicos, demonstrando sua maestria narrativa e aproximando-o, tematicamente, de Bataille e Sade em suas especulações sobre o potencial destrutivo do amor e da sexualidade. 

         

                                                                                                   


JUN'ICHIRO TANIZAKI 

JUN’ICHIRO TANIZAKI, nascido em 24 de julho de 1886, viveu e estudou em Tóquio até o terremoto de 1923, quando mudou-se para a região de Kyoto-Osaka, cenário de muitas de suas obras. Mais transgressor do que seus compatriotas de ofício, o universo de Tanizaki é centrado na sensualidade e no erotismo, sendo que infidelidade, fetichismo, tendências sádicas e voyeurismo não coíbem os personagens de realizar seus anseios, bem na tradição budista que desconhece a noção de pecado – Tanizaki jamais viajou ao Ocidente e não era influenciado pelo cristianismo e suas normas morais. Foi o primeiro escritor japonês eleito como membro honorário da American Academy of Arts and Letters. Dentre suas principais obras estão Amor insensato [1924], Voragem [1928], Há quem prefira urtigas [1929], As irmãs Makioka [1943], A chave [1956] e Diário de um velho louco [1961]. Faleceu em 30 de julho de 1965. 



Livro
Tradutor Andrei Cunha, Ariel de Oliveira e Lídia Ivasa
Formato 14x21cm
Páginas 160
ISBN 978-85-7448-290-3

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