SAYAKA MURATA disseca tabus japoneses com humor cáustico
Querida Konbini aborda relações de gênero e satiriza obsessão pela normalidade

Irasshaimasê! Observando as konbinis japonesas (abreviação do termo em inglês para loja de conveniência) Sayaka Murata identificou o cenário perfeito para seu romance. As onipresentes cadeias de minimercados são parte fundamental da vida urbana no Japão: refeições prontas, revistas, artigos de higiene pessoal, peças de roupa, serviços como entregas ou pagamentos de contas, tudo isso é oferecido, 24 horas por dia, 365 dias por ano. 

A protagonista e narradora de Querida Konbini é Keiko Furukura. Aos 36 anos, Keiko nunca se envolveu romanticamente e, desde os 18, trabalha numa konbini – todos insistem que ela arranje um trabalho sério ou, pior ainda, um marido. Keiko, no entanto, está satisfeita consigo mesma. Deslocada desde a infância, é na loja, com regras estritas para os funcionários e dinâmica precisa de funcionamento, que ela consegue pela primeira vez se sentir uma peça no mecanismo do mundo.

Para que as pessoas normais finalmente parem de se meter em sua vida, ela inicia um relacionamento de fachada com Shiraha, ex-colega de trabalho misógino e sociopata. Apesar de o pretendente e a situação estarem bem longe de oferecer a Keiko qualquer melhora em seu cotidiano, família e amigos respiram aliviados pelo fato de ela se aproximar um pouco mais da normalidade. 

Pelo olhar único de sua protagonista, Murata cria um retrato realista e absurdo da vida contemporânea, satirizando nossas obsessões e abordando temas essenciais: normalidade e estranheza, relações de trabalho e de gênero, e a forma como as pessoas (em particular as mulheres) são pressionadas para atender às expectativas alheias. Questões complexas como a repulsa ao sexo e os hikikomori, pessoas que se isolam do convívio social, também estão presentes. Ao escancarar os pequenos rituais, fingimentos e meandros da busca por um lugar ao sol na sociedade, a autora nos coloca frente a frente com a pergunta: o que é, afinal, ser normal?

LEIA UM TRECHO DA OBRA 


REPERCUSSÃO

“É uma história de amor, em outras palavras, entre uma deslocada e uma loja.”
Katy Waldman, The New Yorker

“Curto, elegante, irônico [...] uma exploração incomum sobre o que cada um precisa deixar para trás para poder participar do mundo.” 
Dwight Garner, The New York Times


“Keiko é uma personagem quase kafkiana, mortalmente séria em circunstâncias absurdas […] Murata conta histórias de mulheres que não se encaixam, que não estão cumprindo com os deveres da conformidade da classe média.”
Nicolas Gattig, Japan Times


“[Sayaka Murata] tem um olho muito afiado para o grotesco, para algo que pode ser ao mesmo tempo engraçado e horripilante.”
Ginny Tapley Takemori, tradutora do livro para o inglês, em entrevista ao New York Times



CONVERSA COM A AUTORA SAYAKA MURATA


Com mediação de Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House SP e de Paulo Werneck, Editor da Quatro Cinco Um, o encontro, com tradução simultânea para português e japonês, traz um panorama da carreira de Murata, que já foi tema de um episódio da primeira temporada do Podcast Japan House SP e protagonizou dois encontros do Clube de Leitura da JHSP em parceria com a Quatro Cinco Um: o primeiro sobre o best-seller internacional Querida Konbini, publicado em trinta idiomas e 1,4 milhão de exemplares já vendidos no mundo; e o outro sobre Terráqueos, seu segundo romance traduzido para o português.

A ação faz parte da programação do Clube de Leitura da Japan House São Paulo + Quatro Cinco Um, que conta com a curadoria de Natasha Barzaghi Geenen e de Paulo Werneck. Com encontros online realizados toda última quinta-feira de cada mês, o Clube considera livros traduzidos diretamente do japonês para o português, buscando ampliar o acesso dos brasileiros a este universo literário. A discussão conta, todo mês, com a participação de um convidado especial e todos os participantes são convidados a trocar ideias e compartilhar leituras.




SOBRE A AUTORA 


Sayaka Murata nasceu em 1979 em Inzai, na província de Chiba, próxima a Tóquio. Fã de mangás e ficção científica, desde a infância já escrevia histórias. Frequentou a Universidade Tamagawa em Tóquio e passou a estudar escrita criativa paralelamente. 

Querida konbini, seu décimo livro, marcou seu nome entre os mais celebrados da nova literatura japonesa: a obra chega à marca de 700 mil exemplares vendidos no Japão, ganhou o prêmio Akutagawa,um dos mais prestigiosos do país, e rendeu à autora um lugar entre as mulheres do ano da Vogue Japão em 2016. A obra está no prelo ou  publicada em 18 idiomas pelo mundo e já atingiu status de best-seller internacional. Antes, Murata havia recebido os prêmios Gunzo e Noma, em 2003 e 2009, ambos voltados para novos escritores, e o prêmio Yukio Mishima, em 2013.

Os temas abordados por ela costumam se relacionar à não conformidade dentro da sociedade japonesa nas relações de gênero, trabalho e na sexualidade, frequentemente incorporando aspectos distópicos ou de horror. Seu conto “Um casamento limpo”, sobre um casal que deseja conceber um filho sem fazer sexo, foi publicado na Granta Vol. 13: Traição, também em tradução de Rita Kohl.

Curiosamente, Murata, que mora em Tóquio, também trabalhou por mais de uma década em uma konbini, desde a faculdade até quase um ano depois do sucesso estrondoso deste romance. O trabalho na loja a ajudava com a rotina da escrita e lhe permitia uma das suas atividades preferidas:observar pessoas comuns em seu dia a dia.
          



Livro
Tradutor Rita Kohl
Formato 14x21cm
Páginas 152
ISBN 978-85-744-295-8

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