VENTO LESTE 


Esta é a história de uma saga familiar extraordinária. Ambientada no início dos anos 1940, quando o mapa da geopolítica mundial já insinuava a possibilidade de uma nova grande guerra, a trama deste ambicioso romance de Otohiko Kaga acompanha as agruras dos Kurushimas, uma família cujo patriarca, Saburo, é o diplomata japonês designado pelo Imperador — figura que, no Japão, era vista como o próprio Deus na Terra — para cuidar diretamente com o presidente americano Franklin Delano Roosevelt, e com o secretário de Estado deste, Cordell Hull, das negociações de não agressão entre os dois países. A missão de Saburo Kurushima, portanto, significava a última tentativa de se evitar aquela que viria a ser a Segunda Guerra Mundial.

Casado com Alice, uma americana que adotou o Japão como sendo a sua própria pátria, o diplomata sabe da dimensão da missão em que está envolvido. Mais do que as milhares de vidas em jogo que estariam implicadas num eventual conflito bélico, há uma questão íntima terrível: o filho deles, Ken, tornou-se piloto da Aeronáutica japonesa. E, no lado americano da família, um sobrinho do casal também é membro da Força Aérea dos Estados Unidos. Ou seja: caso os países entrem em guerra, os primos poderão ter de atacar um ao outro em pleno ar — perspectiva que atordoa os Kurushimas, e que fica ainda mais iminente quando Pearl Harbor é atacada.

As feições marcadamente mestiças de Ken fazem com que ele seja, com frequência, agredido e vilipendiado na corporação, mas isso não esmorece sua genealogia oriental, ainda que o drama de eventualmente ter de lutar contra a sua “metade americana” o angustie. Ken personifica o problema típico dos mestiços: o de ter de bradar pela própria identidade étnica, como se, ao invés de ser reconhecido como sendo ao mesmo tempo japonês e americano, não fosse nem um, nem outro, mas um apátrida, uma figura dúbia, alguém portanto em quem não se deve confiar — sobretudo no caso de alguém que enverga o uniforme militar de piloto. 

Não é sem desconcerto que o leitor acompanha as privações próprias decorrentes da guerra, como o racionamento de alimentos, do qual nem mesmo uma abastada família como a dos Kurushimas passa impune. No entanto, a despeito de todas as adversidades, ou justamente por elas, a resiliência dos Kurushimas mostra-se inquebrantável. Vivem acalentando muitos planos “para quando a guerra acabar”, como o desejo da mãe Alice de, um dia, poder viajar aos Estados Unidos com toda a família, viagem que jamais fizeram. Ken também pensa em se casar com Margaret Hendersen, a linda filha do pastor da comunidade, o que gera um sentimento dúbio sobre Eri, a irmã caçula dele, que tem pelo irmão uma admiração obsessiva quase incestuosa — bem diferente do que ela sente pela outra irmã, Anna, com quem vive às turras. 

Mas a guerra se intensifica. Os bombardeios sobre Tóquio são detonados. Missões kamikazes são ordenadas contra os intimidantes B-29s ianques. E então a jornada dos Kurushimas encaminha-se para seu clímax catártico e comovente.

Hombridade, perseverança, coragem, ufanismo: são esses os elementos que fazem de Vento Leste um romance histórico memorável, uma narrativa épica que costura com delicadeza a abordagem dura das conspirações diplomáticas com uma inesquecível história de união familiar. Vento Leste é, em suma, uma radiografia da alma japonesa.


LEIA UM TRECHO DA OBRA 




NOTA DOS EDITORES

A presente edição de Vento Leste foi vertida a partir da edição norte-americana, publicada em 1999 pela Kodansha International, filial da Kodansha Tokyo — portanto, tradução feita da língua inglesa —, uma exigência determinada pelo autor. A edição americana é ligeiramente adaptada do original publicado no Japão em 1982. Os nomes dos personagens principais da obra, baseada em pessoas e eventos reais, foram alterados, ainda que mantida a autenticidade dos detalhes históricos, incluindo documentos como a correspondência oficial entre o Ministério das Relações Exteriores do Japão e sua embaixada em Washington. Também foi mantida a essência do teor das negociações entre os representantes japoneses e americanos. 


                                                                                                 


OTOHIKO KAGA 

Otohiko Kaga nasceu em Tóquio, em 1929. Quando adolescente, foi cadete da Academia Militar para novatos e, aos 16 anos, testemunhou sua cidade natal em chamas em decorrência da guerra. Estudou na França e tornou-se, na sequência, professor de psicologia criminal e conselheiro para prisioneiros condenados à morte. 

Passou a se dedicar à literatura a partir dos 30 anos de idade, estreando com Furandoru no Fuyu [Um Inverno em Flandres], seguido de Kaerazaru natsu [Um Verão Sem Volta], novela esta baseada em suas experiências de guerra, e pela qual arrebatou, em 1973, o Prêmio Tanizaki de Literatura. Alcançou o status de escritor best seller em 1979 com a publicação de Senkoku [A Sentença], novela sobre prisioneiros japoneses, e de Vento Leste (Ikari no naifune), três anos depois — trabalhos que o tornaram uma referência da literatura japonesa no gênero épico. Mais recentemente publicou Yubae no hito [Pessoas à Luz do Poente] e A Chichiyo, a Hahayo [Oh, mãe! Oh, pai!].



Livro
Tradutor Pedro Barros
Formato 23x16cm
Páginas 504
ISBN 978-85-744-234-7

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