Péricles - o inventor da democracia

O nome de Péricles (ca. 495-429 a.C.), esse “primeiro cidadão” de Atenas que governou a cidade durante mais de trinta anos, ficou para sempre ligado ao século V a.C., o mais representativo e o mais brilhante da civilização grega antiga, aquele que, com razão, é chamado de “o século de Péricles”. É a ele que devemos essa experiência política original — a democracia —, erigida atualmente em modelo universal de governo, e o excepcional florescimento artístico e literário — a construção da Acrópole, o nascimento do teatro tragicômico com Ésquilo, Sófocles e Eurípides, os primórdios da história e da filosofia — de que toda a humanidade pode se orgulhar.

Para além da personalidade complexa desse homem investido de funções de mando e com grande talento de orador (um dos fundamentos de seu poder), e de seu papel preponderante no estabelecimento da hegemonia ateniense no mar Egeu, Claude Mossé se indaga sobre as origens da democracia e sobre a realidade desse regime político no seio da sociedade de Atenas.

Uma cativante e reveladora leitura política que a autora, com seu costumeiro rigor intelectual, nos oferece mais uma vez depois da notável biografia analítica Alexandre, o Grande, publicada por esta casa editorial em 2004.

CONTEÚDO DA OBRA

Péricles, o inventor da democracia é dividido em quatro partes – “Atenas antes de Péricles”, “Democracia e imperialismo”, “A Atenas de Péricles” e “Péricles ou O Político”. A primeira parte é dedicada ao estabelecimento de uma genealogia de Péricles, ou, antes, a uma genealogia da própria democracia grega. À análise da linhagem dos Alcmeônidas, segue a descrição dos primórdios da instauração da democracia na Grécia. A importância de Sólon e as reformas do alcmeônida Clístenes, primeiros pilares do regime democrático em Atenas; as guerras médicas e o seu papel na consolidação da hegemonia ateniense: Mossé percorre esses temas na primeira parte da obra, amparada pelos relatos de Heródoto, Tucídides e historiadores modernos e contemporâneos. 

A segunda parte do livro dedica-se a um estudo da organização interna da democracia ateniense. O aumento da importância política de Péricles, o poder crescente dos Démos, a participação dos cidadãos e o imperialismo de Atenas. A autora estabelece um percurso que se inicia com a observação da vocação imperialista do governo de Péricles e vai até as raízes da guerra do Peloponeso, resultado dessa expansão territorial e, principalmente, econômica.

Na terceira parte de Péricles, o leitor encontrará um apurado retrato da sociedade ateniense à época desse governante. As relações econômico-sociais, a questão da cidadania e as manifestações artísticas e filosóficas são temas dos quatro capítulos que a compõem. É na quarta parte, porém, que a autora volta sua análise para Péricles. Procurando dissociar, onde é possível, o homem do mito, Claude Mossé compara as visões de Tucídides, Aristóteles, Plutarco, responsáveis, em grande parte, pela imagem mitificada desse grande líder e orador da Idade Antiga, e estabelece seu próprio parecer sobre o chamado “século de Péricles” e os porquês de dar-se o nome de um homem a toda uma época.