Porões do Vaticano, Os
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- Calcular freteNa França dos séculos XIV e XV, as farsas satíricas eram conhecidas como soties. Assim Gide classifica este Porões do Vaticano, livro que tanto o teria divertido durante o processo de criação.
Logo ao princípio, deparamo-nos com personagens marcantes e caricatos, como o maçom Anthime Armand-Dubois, que oscila entre o ceticismo e a fé, a qual não resiste, por sua vez, ao final da história; Amédée Fleurissoire, católico fervoroso que no transcurso da obra é manipulado, pervertido e enganado... E Julius de Baraglioul, escritor que luta para sair da mediocridade.
Algo de muito misterioso envolve a figura do papa, que teria relação com “o antigo mausoléu de Adriano, aquela célebre prisão que, em secretas masmorras, havia outrora abrigado muitos prisioneiros ilustres, e que um corredor subterrâneo liga, ao que parece, ao Vaticano”. Organiza-se uma quixotesca cruzada para resgatá-lo; Protos, o vigarista, entra em cena; o fio da trama se tensiona e assim se manterá até o final da narrativa. O texto flutua na fronteira entre o teatro e o romance, às vezes assumindo ares de farsa ou de comédia barroca, subvertendo os modelos balzaquianos, apresentando aqui e ali toques de uma estética noir.
Espécie de personagem exemplar, encontramos Lafcadio, irmão bastardo de Julius. Se os personagens descritos acima são responsáveis pela nota cômica, é ele quem dá o charme, o desconforto e o horror à tessitura da história. Este livro de 1914 marca a ruptura de Gide com a Igreja e seus primeiros passos rumo à subversão de cânones estilísticos e ideológicos que se completaria em obras como Se o grão não morre (1919) e Corydon (1924). Por sua vez, Lafcadio, alheio ao escrúpulo, capaz de executar atos de heroísmo ou atrocidades com a mesma naturalidade, e que já anuncia à literatura contemporânea possibilidades estéticas como a de um Meursault, de Camus, é a negação de toda e qualquer moral. Sua figura se estende através da narrativa como uma promessa assustadora da liberdade total.
Título: Os porões do Vaticano
Autor: André Gide
Tradução: Mário Laranjeira
ISBN: 9788574481548
Formato: 14x21 cm / páginas: 256