O PORTAL
Há algo de estranho no relacionamento entre Sosuke e Oyone, o casal de meia-idade que protagoniza este O portal, de Natsume Soseki — publicado originalmente em 1910, com êxito comercial instantâneo. Eles vivem aquele período do casamento em que as fagulhas da paixão juvenil já não ardem como outrora, embora ainda se mostrem afetuosos um com o outro. São, no entanto, solitários, resignados a uma espécie de clausura existencial em relação ao mundo, cujas razões o leitor terá de depreender das entrelinhas. Se a princípio a trama parece se limitar a pintar meramente o cotidiano ordinário dos protagonistas — as tarefas do lar, as miudezas mundanas, as dificuldades financeiras — logo começamos a ouvir os ruídos subliminares que, afinal, tanto atordoam o bem-estar do casal. Quando eles se veem praticamente forçados a dar abrigo ao irmão caçula de Sosuke, compreendemos que as dificuldades no relacionamento familiar guardam máculas ainda mais delicadas e traumáticas. Sosuke e Oyone parecem ter cometido, no passado, um “pecado” que os tornou alvos da maledicência alheia.
Se hoje tal deslize talvez não pareça tão grave, é preciso levar em conta o contexto em que a história foi escrita: o Japão do início do século XX, com seus moralismos, tabus e valores conservadores inquebrantáveis. Muito comparado a Machado de Assis por sua prosa virtuosa e cristalina, Soseki mostra aqui marcas de fato machadianas: metáforas, elipses e subentendidos, que hão de conduzir o leitor na compreensão das angústias que machucam a consciência dos protagonistas. Marco da maturidade literária de Soseki, O portal fecha uma trilogia composta ainda pelos romances Sanshiro (1908) e E depois (1909) — ambos também publicados por este selo.
NATSUME SOSEKI Soseki nasceu em Tóquio em 5 de janeiro de 1867. Teve infância difícil e solitária. Aos 23 anos, inicia seus estudos de literatura inglesa. Sempre vítima de crises nervosas, viaja à Inglaterra em 1900 como bolsista do Ministério da Educação. Não se adapta à cultura ocidental, entra novamente em depressão e regressa ao Japão em 1903. Seu recorrente estado depressivo o afasta da família. Falece em 9 de dezembro de 1916. Soseki permanece até hoje como um dos escritores mais populares e lidos do Japão. Destacou-se em todos os tipos de escrita, assinando importante obra de teoria literária, totalmente inovadora para a época. Se de um lado foi marcado pela influência ocidental, de outro apregoou a valorização da cultura tradicional nipônica. |
Livro | |
Tradutor | Fernando Garcia |
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Formato | 23x16 cm |
Páginas | 272 |
ISBN | 978-85-7448-241-5 |